ALGUMAS
REFLEXÕES SOBRE IDENTIDADE
A
questão das identidades está sendo intensamente discutida na teoria social. Por quê? Por que há uma grande preocupação por
parte dos estudiosos (filósofos, historiadores e sociólogos) com a afirmação das
identidades pessoais e culturais no
contexto atual, marcado pelo ressurgimento do nacionalismo e de outras formas
de particularismo no final do século XX, ao lado do processo de globalização.
Em
seu artigo, Identidade e Diferença: uma introdução teórica e conceitual,
Kathryn Woodward, afirma que a identidade marca o encontro de nosso passado com
as relações sociais, culturais e econômicas nas quais vivemos agora. A
identidade é a intersecção de nossas vidas cotidianas com as relações econômicas
e políticas de subordinação e dominação. Nessa perspectiva, a reflexão sobre as
principais questões que norteiam a temática “Identidade” permite que pensemos
sobre as nossas vidas, o movimento da nossa história e sobre as possíveis mudanças
e transformações nas quais estamos vivenciando.
Uma
dessas questões abordada por Kathryn trata do fato das identidades só
adquirirem sentido por meio da linguagem
e dos sistemas simbólicos pelas quais
elas são representadas. Nos autodeclaramos brasileiros por que além de termos
nascidos em território brasileiro, aceitamos sermos chamados assim pelos estrangeiros,
como também nos nossos documentos oficiais. E somos representados por sistemas
simbólicos que marcam nossa identidade nacional, como por exemplo, temos o
costume alimentar de almoçarmos a meio dia, quase sempre com feijão, arroz e
carne.
A
construção da identidade é tão simbólica quanto
social. Nesse segundo caso, é visível entre os grupos em conflito e na turbulência
e na desgraça social e econômica que a guerra trás se formar identidades
marcadas pelo sofrimento e pela dor.
Essa
identidade é relacional. A identidade
sérvia, por exemplo, depende para existir, de algo fora dela: a saber de outra
identidade. A outra identidade, por exemplo, a croata, serve para anular uma
possibilidade e permitir outra, a sérvia.
A
identidade nacional é marcada pelo gênero.
Em alguns países, os homens são marcados por uma identidade de superioridade. As
mulheres são atribuídas papeis sociais bem diferentes daqueles atribuídos aos
homens, como ficar em casa, cuidando dos filhos e se dedicando a vida domestica
e a obediência incontestável do seu marido.
A
afirmação das identidades nacionais é historicamente
especifica. Ela está localizada em um ponto especifico no tempo. Uma das
formas pelas quais as identidades estabelecem suas reivindicações é por meio do
apelo a antecedentes históricos. Busca-se no passado, sua cultura-elemento
significante de sua história. Cria-se uma representação que serve para dar
sentido as nossas experiências e aquilo que somos.
Nessa
perspectiva é preciso ser dito que todas as práticas de significação e
representação envolvem relações de poder,
para definir como e de que forma vai se construir determinada identidade. As
relações de poder envolvidas na construção das identidades nacionais, também
define que vai ser incluído e quem será excluído do processo simbólico e
representativo.
Nas
últimas décadas tem se discutido muito a chamada “crise de identidade”. Tal crise seria a desintegração das
identidades nacionais e pessoais, como resultado da homogeneização cultural e
do pós-moderno global. Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado
global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas
imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mas
as identidades se tornam desvinculadas- de tempos, lugares, histórias e
tradições especificas e parecem “flutuarem livremente”.
Segundo
Stuart Hall, em seu livro “A identidade cultural na pós-modernidade”, seria muito simplista, exagerado e
unilateral afirmar que as identidades nacionais estão sendo homogeneizadas pela
globalização e sistema econômico atual. Ele não ignora as consequências da
globalização na construção e reorganização das identidades. Mas ele descreve três
contratendências a tal afirmação. A primeira questão aborda o fato que nos dias
atuais, marcado pela globalização, há uma fascinação com a diferença e com a
mercantilização da etnia e da alteridade. Segundo ele, em vez de pensar na substituição
do local, seria mais interessante pensar na articulação do global, com o local.
A
segunda contratendência é a distribuição desigual da globalização ao redor do mundo.
Ainda há muitas regiões que quase não percebemos as características desse
processo de integração, uniformização das regiões.
A
terceira trata-se de saber quem é mais
afetado pela globalização. Na verdade, a direção do fluxo de consequências é
desequilibrada. Será que só os países periféricos são os mais atingidos pela
globalização. Os países desenvolvidos também são afetados pela globalização. Exemplificação
disso são as migrações. Migrações contínuas e de grande escala, legais e
ilegais, partem das regiões periféricas em direção as grandes potências
globais. Basta uma passagem aérea para se chegar a Europa. Os Estados Unidos
recebeu uma grande quantidade de imigrantes da America Latina e da bacia
caribenha (Cuba, Haiti, Porto Rico, Rep. Dominicana, Ilhas do Caribe britânico).
A Europa, atualmente está recebendo levas de refugiados do Extremo Oriente.
Dessa forma, Stuart Hall, fala da possibilidade de que a globalização
possa levar a um fortalecimento de identidades locais ou a produção de novas
identidades. A globalização tem o efeito de contestar e deslocar as
identidades centradas e fechadas de uma cultura nacional. Ela tem um efeito
pluralizante sobre as identidades, produzindo uma variedade de possibilidades e
novas posições de identificação, e tornando as identidades mais posicionais,
mais políticas, mais plurais e diversas. O movimento feminista tem ocupado seu
espaço na pós-modernidade global. Além de inúmeros outros grupos sociais que
tem se articulado em prol a um causa e determinados objetivos, inclusive,
alguns, o de reconhecimento de sua identidade, como os movimentos de negros.
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