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UMA REFLEXÃO SOBRE A TEORIA DO SISTEMA DE ENSINO ENQUANTO VIOLÊNCIA SIMBÓLICA
Esta teoria está desenvolvida na obra “A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino, de P. Bourdieu e J C. Passeron (1975).
O ensino enquanto violência simbólica. Como assim? Segundo essa teoria, a função da educação é a de reprodução das desigualdades sociais. E essa função está mascarada por discursos bonzinhos de desenvolvimento integral e humano do alunado. Na verdade, o que de fato ocorre é uma reprodução cultural que contribui especificamente para a reprodução social.
Os autores tomam como ponto de partida que toda e qualquer sociedade estrutura-se como um sistema de relações de força material entre grupos ou classes. Sobre a base da força material, sob sua determinação, erige-se um sistema de relações de força simbólica cujo papel é reforçar, por dissimulação, as relações de força material. É essa a ideia central contida no axioma fundamental da teoria. Senão vejamos o seu enunciado: "Todo poder de violência simbólica, isto é, todo poder que chega a impor significações e a impô-Ias como legítimas, dissimulando as relações de força que estão na base de sua força, acrescenta sua própria força, isto é, propriamente simbólica, a essas relações de força" (Bourdieu & Passeron, 1975: 19).
Dessa forma, o que vemos é que o reforçamento da violência material se dá pela sua conversão ao plano simbólico onde se produze reproduz o reconhecimento da dominação e de sua legitimidade pelo desconhecimento (dissimulação) de seu caráter de violência explícita. Assim, à violência material (dominação econômica) exercida pelos grupos ou classes dominantes sobre os grupos ou classes dominados corresponde a violência simbólica (dominação cultural). A violência simbólica se manifesta de múltiplas formas: a formação da opinião pública através dos meios de comunicação de massa, jornais etc.; a pregação religiosa; a atividade artística e literária; a propaganda e a moda; a educação familiar etc. No entanto, na obra em questão, o objetivo de Bourdieu e Passeron é a ação pedagógica institucionalizada, isto é, o sistema escolar.
Como interpretar, nesse quadro, o fenômeno da marginalidade? De acordo com essa teoria, marginalizados são os grupos ou classes dominados. Marginalizados socialmente porque não possuem força material (capital econômico) e marginalizados culturalmente, porque não possuem força simbólica (capital cultural). E a educação, longe de ser um fator de superação da marginalidade, constitui um elemento reforçador da mesma.


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